Marginalização ou banalização, como fica?
Por Débora Andrades
Sobre a maconha, ouvimos e lemos, todos os dias, opiniões de quem
gosta e quem não, da questão pais versus filhos e todo o tipo de
preconceito e defesa. Mas não perguntamos o porquê, não é? A
versão de uma mãe, uma usuária e doutores, todos os seus motivos e
a pergunta maior: é preconceito ou preocupação?
Os
usuários – freqüentes ou não – da maconha têm a tendência de
se esconder de seus familiares e amigos que não têm o mesmo hábito,
com receio de serem descobertos, mal interpretados ou discriminados.
A partir deste ponto, a YouSmoke conversou com Rita de Cássia
de Assis, de 52 anos e mãe-corujona de um menino de 20 anos e uma
menina de 25, Juliana Centurion, uma apaixonada pela erva. Buscamos
também analisar médicos e doutores no assunto.
“Existe muito preconceito, discriminação social e principalmente
familiar. Sempre culpam o pai e mãe, alegando falta de atenção
para com o filho e ai ‘aconteceu’! Por causa disso. Até parece
que é simples assim... normalmente o jovem vai negar e encontrar
várias desculpas. Por isto que, se for conversar com ele, precisa
ser firme sem ser duro e tratá-lo com amor e tato”, explica Rita.
Segundo o médico nefrologista Doutor Pedro Pinheiro, os “usuários,
principalmente os com peso corpóreo extras podem apresentar síndrome
de abstinência quando interrompem o uso crônico. Os sintomas podem
durar semanas e incluem insônia, depressão, náuseas,
agressividade, anorexia e tremores.” E Rita
completa: “os jovens acabam usando a maconha como uma
válvula de escape, achando que com isto se sentem mais leves,
aliviados e que o uso os torna capazes de conseguirem resolverem seus
problemas de timidez, peso e frustrações. Vira automaticamente o
seu próprio super herói.”
Juliana Centurion, 19 anos, expressa sua frustração com depoimentos
vistos acima e desabafa: “É engraçado como a mente humana se
acostuma a estereótipos. Como nada vai além do senso comum.” E
explica: “em linhas gerais, o que estou tentando dizer é que não
importa como você fuma, quanto ou onde. Não existe um ponto de
vista que possa ser compreendido ou legal. Apenas pela exceção, que
literalmente, são exceções”.
Rita nos
conta que “O comportamento de um usuário é nítido: agressão
verbal, distanciamento da família e do convívio social, rendimento
escolar baixo e uma clara impressão de desleixo. A turma de amigos
muda e ele não os apresenta.”, e nos explica que a sua maior
preocupação não está ligada inteiramente ao consumo da erva, mas
sim as alterações de comportamento, por medo de ser flagrado e
repreendido. “A razão pela qual devemos lutar para acabar com o
vicio de fumar maconha é que ele não leva a nada importante, mas
tão somente ao envolvimento com o pior tipo de pessoas que
existem: os traficantes.”
Juliana
completa e se solidariza com a preocupação de Rita. “O primeiro
comentário que ouvi, quando descoberta, foi: ‘Eu percebi que você
estava muito estranha nesses últimos meses’, e então eu ri (e ri
muito) e disse a eles que já fumava há dois anos. Quando comecei
foi muito complicado para eu mesma aceitar porque sempre tive a idéia
de que estaria incentivando o trafico, o que me levou a plantar. E
acabei com o meu problema. Ofensas verbais e faciais eram muito
comuns no início, mas depois, eu me acostumei.”
Outro
problema muito grande que todas as famílias e usuários enfrentam, é
a aceitação de ambas as partes. O filho não aceita a decepção e
preocupação dos pais e os pais, por sua vez, não aceitam a calma e
tranqüilidade do filho com relação ao assunto. “A primeira
reação de uma mãe costuma ser de desespero, é um choque, há uma
mistura de decepção com raiva, além de muita culpa. Onde eu
estava? Como não percebi?”, conta Rita.
Juliana
já conta sua versão: “O pior estagio é quando sua família, por
achar uma celulose (folha para enrolar a maconha) na sua bolsa, se
junta para decidir qual a melhor clínica para te internar.” E
completa, “nós somos humilhados todos os dias pela nossa família,
amigos, colegas e por todo o resto, porque muita gente não sabe a
diferença entre fumar maconha, ser maconheiro e usar drogas.”
É certo
que o preconceito, o pré-conceito, a marginalização e a
banalização da maconha existam, mas quem está certo quando não
vemos ninguém errado? Será que a solução de todo essa problema é
chegar ao meio do caminho, ao equilíbrio?
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