sexta-feira, 30 de maio de 2014

TABÚ

Marginalização ou banalização, como fica?

Por Débora Andrades

Sobre a maconha, ouvimos e lemos, todos os dias, opiniões de quem gosta e quem não, da questão pais versus filhos e todo o tipo de preconceito e defesa. Mas não perguntamos o porquê, não é? A versão de uma mãe, uma usuária e doutores, todos os seus motivos e a pergunta maior: é preconceito ou preocupação?

Os usuários – freqüentes ou não – da maconha têm a tendência de se esconder de seus familiares e amigos que não têm o mesmo hábito, com receio de serem descobertos, mal interpretados ou discriminados. A partir deste ponto, a YouSmoke conversou com Rita de Cássia de Assis, de 52 anos e mãe-corujona de um menino de 20 anos e uma menina de 25, Juliana Centurion, uma apaixonada pela erva. Buscamos também analisar médicos e doutores no assunto.
“Existe muito preconceito, discriminação social e principalmente familiar. Sempre culpam o pai e mãe, alegando falta de atenção para com o filho e ai ‘aconteceu’! Por causa disso. Até parece que é simples assim... normalmente o jovem vai negar e encontrar várias desculpas. Por isto que, se for conversar com ele, precisa ser firme sem ser duro e tratá-lo com amor e tato”, explica Rita.
Segundo o médico nefrologista Doutor Pedro Pinheiro, os “usuários, principalmente os com peso corpóreo extras podem apresentar síndrome de abstinência quando interrompem o uso crônico. Os sintomas podem durar semanas e incluem insônia, depressão, náuseas, agressividade, anorexia e tremores.” E Rita completa: “os jovens acabam usando a maconha como uma válvula de escape, achando que com isto se sentem mais leves, aliviados e que o uso os torna capazes de conseguirem resolverem seus problemas de timidez, peso e frustrações. Vira automaticamente o seu próprio super herói.”
Juliana Centurion, 19 anos, expressa sua frustração com depoimentos vistos acima e desabafa: “É engraçado como a mente humana se acostuma a estereótipos. Como nada vai além do senso comum.” E explica: “em linhas gerais, o que estou tentando dizer é que não importa como você fuma, quanto ou onde. Não existe um ponto de vista que possa ser compreendido ou legal. Apenas pela exceção, que literalmente, são exceções”.
Rita nos conta que “O comportamento de um usuário é nítido: agressão verbal, distanciamento da família e do convívio social, rendimento escolar baixo e uma clara impressão de desleixo. A turma de amigos muda  e ele não os apresenta.”, e nos explica que a sua maior preocupação não está ligada inteiramente ao consumo da erva, mas sim as alterações de comportamento, por medo de ser flagrado e repreendido. “A razão pela qual devemos lutar para acabar com o vicio de fumar maconha é que ele não leva a nada importante, mas tão somente ao envolvimento com o pior tipo de pessoas que existem: os traficantes.”
Juliana completa e se solidariza com a preocupação de Rita. “O primeiro comentário que ouvi, quando descoberta, foi: ‘Eu percebi que você estava muito estranha nesses últimos meses’, e então eu ri (e ri muito) e disse a eles que já fumava há dois anos. Quando comecei foi muito complicado para eu mesma aceitar porque sempre tive a idéia de que estaria incentivando o trafico, o que me levou a plantar. E acabei com o meu problema. Ofensas verbais e faciais eram muito comuns no início, mas depois, eu me acostumei.”
Outro problema muito grande que todas as famílias e usuários enfrentam, é a aceitação de ambas as partes. O filho não aceita a decepção e preocupação dos pais e os pais, por sua vez, não aceitam a calma e tranqüilidade do filho com relação ao assunto. “A primeira reação de uma mãe costuma ser de desespero, é um choque, há uma mistura de decepção com raiva, além de muita culpa. Onde eu estava? Como não percebi?”, conta Rita.
Juliana já conta sua versão: “O pior estagio é quando sua família, por achar uma celulose (folha para enrolar a maconha) na sua bolsa, se junta para decidir qual a melhor clínica para te internar.” E completa, “nós somos humilhados todos os dias pela nossa família, amigos, colegas e por todo o resto, porque muita gente não sabe a diferença entre fumar maconha, ser maconheiro e usar drogas.”

É certo que o preconceito, o pré-conceito, a marginalização e a banalização da maconha existam, mas quem está certo quando não vemos ninguém errado? Será que a solução de todo essa problema é chegar ao meio do caminho, ao equilíbrio?  

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